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O passado constrói o futuro – o da panificação e o da sua jornada como padeiro
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Todo dia, você tem uma escolha: ir atrás dos seus sonhos ou ficar parado reclamando. No passado, eu entendi isso muito bem, quando uma pedra enorme foi colocada no meu caminho na panificação.
Eu poderia ter reclamado, visto esta pedra apenas como obstáculo, mas não. Eu decidi fazer dela o degrau que me levaria ao topo. E foi isso que aconteceu!
Hoje, posso dizer que nas minhas veias correm água, farinha e fermento, mas não foi sempre assim.
Quando eu tinha 11 anos e morava com a minha família na cidade de Faxinal, no interior do Paraná, eu comecei a trabalhar em um restaurante da cidade.
Estava naquele trabalho, porque precisava do emprego para ajudar a minha família, mas, mal sabia eu que seria ali o início da maior jornada da minha história.
Nesse restaurante, tive o meu primeiro contato com o trigo a partir do desenvolvimento de salgados como coxinhas e risoles. O curioso é que eu já achava aquele universo interessante, mas não como opção de profissão para o meu futuro.
Queria mesmo era ser Engenheiro Civil. Esse era o meu sonho! Mas enquanto este sonho não era realizado, eu precisava trabalhar para ajudar nas contas da casa.
Bom, depois de um tempo trabalhando ali, aconteceu o momento que, apesar de muito difícil, mudou a minha vida. O momento em que, enfim, a pedra foi colocada no meu caminho e eu tive que fazer uma escolha.
Um dia, a dona deste restaurante me chamou para uma conversa. O objetivo: me comunicar que não precisava mais dos meus serviços. Como funcionário dedicado e que sabia da qualidade do meu trabalho, questionei os motivos: “Porque? , “O que eu estou fazendo de errado?” .
Disse a ela que precisava daquele trabalho, tentando convencê-la a me dar uma segunda chance, mas ela me respondeu friamente: “Olha, eu não vou te iludir, pelo fato de você ser preto, você nunca vai chegar aos pés dos meus padeiros”.
Eu respondi: “Quer dizer que minha cor vai me impedir?” E ela respondeu que sim, com toda a certeza, e eu disse, por fim: “Ok, mas eu vou te fazer uma promessa, eu só volto aqui quando eu for capaz de treinar todos os seus padeiros.” e me retirei.
Ao sair daquela conversa, eu não tive dúvidas e disse para mim mesmo: vou ser padeiro. E com a ajuda do meu irmão, que me deu uma primeira oportunidade de trabalho voluntário em uma padaria em Atibaia – SP, de pessoas, de amigos da família, que também me abriram as portas em renomadas padarias da cidade, e do meu pai, que não mediu esforços para me ajudar a custear o meu primeiro curso de padeiro no Senac São Paulo, hoje, posso dizer, com amor e muito orgulho: eu sou padeiro.
E não apenas um simples padeiro, mas aquele que, anos atrás, fez uma promessa e conseguiu cumpri-lá, sendo premiado como melhor padeiro do Brasil no ano 2022 pela revista Panificação Brasileira e que retornou à cidade de Faxinal para dar um treinamento especial para os padeiros daquele restaurante que me demitiu por conta da minha cor.
Sabe o que eu quero dizer com essa história? Primeiro, o que falei no início deste texto, a gente tem sempre duas opções, reclamar ou dar a volta por cima, e eu escolhi a que me trouxe onde estou hoje.
A segunda, é trazer uma reflexão sobre o quanto o passado também molda o nosso presente – e o nosso futuro.
Veja só, uma história de anos atrás, que poderia ter se tornado um obstáculo na minha vida, tornou-se algo que me impulsionou a chegar onde eu cheguei.
Hoje, somo mais de 14 anos de experiência na área técnica, atuando com panificação, confeitaria e chocolate. Também, promovo treinamentos para equipes, workshow, world shopping e innovation Day, além de trabalhar, há mais de anos, na indústria Puratos Brasil, uma multinacional belga que está presente em mais de 100 países.
E é a partir desta minha experiência como padeiro e da minha história de vida que acabei de contar, que trago para você, leitor(a), uma forte tendência desta área:
O futuro da panificação está, também, no passado
Hoje, quando falamos de tendências na panificação, encontramos diversas práticas que remetem às que eram feitas no passado, como a fermentação natural, um método utilizado há 3.700 anos a.C. com provável origem ligada ao início da agricultura e do cultivo de grãos pelo homem.
Essa é uma tendência que se fortaleceu, principalmente durante a pandemia da Covid-19, quando as pessoas começaram a buscar por fazer o seu próprio pão em casa devido às restrições do isolamento social, que impossibilitava, muitas vezes, que as famílias fossem à padaria comprar aquele pãozinho do café da manhã.
E essa tendência, vale ressaltar, só vem crescendo cada vez mais. Por isso, acredito que o profissional atento, só tende a crescer.
Além disso, mais do que estar antenado, é essencial que o padeiro saiba resgatar, diariamente, o sentimento que fez ele estar ali onde está hoje: a paixão.
O pão é um alimento sagrado. Existe a milhares de anos e está presente na mesa de grande parte das famílias. Por isso, de nada adianta saber a técnica, saber hidratar, amassar.. Se não existe paixão por trás.
Inclusive, porque acredito que, só trabalhando com amor, é que seremos capazes de valorizar essa profissão que, apesar de ser tão invisível. Pois ficamos ali, dentro da cozinha, sem que ninguém veja, é tão importante para todos que consomem, diariamente, esse alimento vivo que é o pão.
E é assim, estudando sempre, colhendo os aprendizados do passado, transformando as pedras em degraus e fazendo tudo com paixão, que será possível construir um futuro positivo na panificação.
receita pronta?
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